Lídia Maria de Melo
No dia 3 de dezembro de 1967, há exatos 50 anos, o cirurgião sul-africano Christiaan Barnard surpreendia o mundo ao realizar, na Cidade do Cabo, na África do Sul. o primeiro transplante de coração da história da humanidade.
A doadora era uma bancária de 24 anos, que o Jornal da Tarde identificou, na edição do dia seguinte, como Ann Darvall. Em outros veículos, consta Denise Darvall.
O receptor era o comerciante Louis Washkansky, cuja idade foi publicada pela imprensa de modo diverso. A informação variou de 53 a 55 anos. Na verdade, nem tão velho assim.
Em São Paulo, a manchete da primeira página do Jornal da Tarde, de 4 de dezembro de 1967, chamou a atenção pelo estilo irreverente: "Coração de môça salva velho".
Não obstante o feito histórico, para este blog, o que merece comentário é o título da reportagem principal. Nele, a palavra "moça" é grafada com acento circunflexo na letra "o". De pronto, devemos esclarecer que não há engano nessa grafia.
Até dezembro de 1971, o substantivo "môça" recebia o sinal gráfico, também denominado acento diferencial, para que não fosse confundido com a terceira pessoa do singular do verbo "moçar". Ou seja,
"moça", com pronúncia aberta no "o".
De modo geral, marcavam-se com acento circunflexo o "e" e o "o" tônicos fechados de palavras que possuíam homógrafas com "e" e "o" abertos.
Pelo dicionário Aurélio, "moçar" tem sentido de "tornar moça, meretriz ou prostituta" e "desvirginar"
Com a reforma ortográfica de 1971, os acentos diferenciais foram abolidos, porque os linguistas consideraram que o contexto seria mais eficiente do que o sinal gráfico, para distinguir os sentidos das palavras homógrafas (com a mesma grafia).
Foi assim que "moça", como tantas outras palavras, a partir de então, perdeu o acento circunflexo.
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