Lídia Maria de Melo
Sabe o que chama minha atenção no diálogo do quadro abaixo?
Sabe o que chama minha atenção no diálogo do quadro abaixo?
Quadro que viralizou em redes sociais. |
O autor exclui o "r" final dos verbos no infinitivo. Em vez de "beber", escreve
"bebe", como no presente do indicativo. Em vez de "fumar", grafa "fuma". Em vez
de "usar" e "transar", redige "usa" e "transa".
Esta é uma observação que venho fazendo há cerca de dois ou três anos.
Primeiramente, identifiquei nas postagens de redes sociais na internet. Depois, percebi em textos escritos por estudantes universitários. Na sequência, constatei em textos redigidos por profissionais, em papel e mensagens de celular.
Não fiz uma pesquisa sistematizada, mas tenho certeza de que se trata de contaminação da linguagem escrita pela linguagem oral. Ouso afirmar que, na pronúncia dessas palavras, o redator também suprime o fonema referente à consoante "r". Se ele fosse reproduzir fielmente o que diz, em relação aos exemplos citados acima, deveria redigir da maneira como fala: "bebê" (beber), "fumá" (fumar), "usá" (usar), "transá" (transar).
Primeiramente, identifiquei nas postagens de redes sociais na internet. Depois, percebi em textos escritos por estudantes universitários. Na sequência, constatei em textos redigidos por profissionais, em papel e mensagens de celular.
Não fiz uma pesquisa sistematizada, mas tenho certeza de que se trata de contaminação da linguagem escrita pela linguagem oral. Ouso afirmar que, na pronúncia dessas palavras, o redator também suprime o fonema referente à consoante "r". Se ele fosse reproduzir fielmente o que diz, em relação aos exemplos citados acima, deveria redigir da maneira como fala: "bebê" (beber), "fumá" (fumar), "usá" (usar), "transá" (transar).
Arrisco também a afirmar que esse apagamento do "r" na escrita é reforçado pela falta de memória visual da grafia dessas palavras. Essa memória é adquirida com a leitura. Quanto mais se lê um vocábulo, mais se fixa sua forma, ou seja, o significante¹, no conceito do linguista Ferdinand de Saussure².
Realizei um teste com uma turma de 50 universitários. Sem que eu fizesse qualquer comentário sobre o diálogo exposto no quadro acima, pedi que lessem o texto, retratando a conversa entre um pai e um filho. O resultado é que não houve estranhamento. Em uníssono, a classe leu, como se as palavras estivessem escritas adequadamente com o "r" do infinitivo. Na verdade, os verbos estão grafados como presente do indicativo.
Isso, em tese, alteraria a coerência e a compreensão dos enunciados. Porém, não é o que acontece, provavelmente devido à ajuda do verbo auxiliar, que induz o leitor ao sentido correto.
Sem o auxiliar, o entendimento da escrita fica prejudicado, em uma primeira leitura: "Assim que 'termina", mando" ("terminar").
Isso, em tese, alteraria a coerência e a compreensão dos enunciados. Porém, não é o que acontece, provavelmente devido à ajuda do verbo auxiliar, que induz o leitor ao sentido correto.
Sem o auxiliar, o entendimento da escrita fica prejudicado, em uma primeira leitura: "Assim que 'termina", mando" ("terminar").
Outra supressão semelhante ocorre com o "u" final, em verbos conjugados na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito.
Exemplos que recolhi também em redes sociais:
"Na questão número 1, ele 'coloco" resposta negativa". (O correto seria "colocou") .
Exemplos que recolhi também em redes sociais:
"Na questão número 1, ele 'coloco" resposta negativa". (O correto seria "colocou") .
"O chefe 'posto' fotos" (postou).
Nesses enunciados, a compreensão não foi imediata. Precisei fazer uma segunda leitura.
*************
¹ Pela teoria de Ferdinand de Saussure, o signo linguístico é a junção da forma física, ou "significante", com a imagem psíquica, ou "significado".
² Linguista e estudioso das línguas indo-europeias, Ferdinand de Saussure era natural de Genebra (Suíça), lugar em que se fala francês. Portanto, a pronúncia de seu nome é /Sôsir/. Em francês, o ditongo /au/ é lido como /ô/, enquanto o /u/ tem som de /i/. Suas teorias foram publicadas após sua morte, em 1916, por seus alunos, no livro Curso de Lingüística Geral.
Nesses enunciados, a compreensão não foi imediata. Precisei fazer uma segunda leitura.
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¹ Pela teoria de Ferdinand de Saussure, o signo linguístico é a junção da forma física, ou "significante", com a imagem psíquica, ou "significado".
² Linguista e estudioso das línguas indo-europeias, Ferdinand de Saussure era natural de Genebra (Suíça), lugar em que se fala francês. Portanto, a pronúncia de seu nome é /Sôsir/. Em francês, o ditongo /au/ é lido como /ô/, enquanto o /u/ tem som de /i/. Suas teorias foram publicadas após sua morte, em 1916, por seus alunos, no livro Curso de Lingüística Geral.
Também tenho percebido a supressão do R nos infititivos, em especial nas redes sociais... Isso está me incomodando profundamente... Não entendo nada imediatamente! Onde é que isso vai 'para'?
ResponderExcluirSe ainda acentuassem esses verbos na sílaba final daria para entender.
ExcluirCaixao
ExcluirVerdade
ExcluirAlém dos que você mencionou no post, há ainda o R a mais na primeira pessoa e na terceira pessoa do singular do tempo Presente. Ex.: Ele estar muito feliz. (Correto: Ele está muito feliz.); Eu aprendir equações na aula de matemática. (Correto: Eu aprendir equações na aula de matemática.)
ResponderExcluirInfelizmente parece que verbos não estão sendo ensinados de maneira eficaz.
Maressa, obrigada pelas observações. Abraço.
ExcluirEu aprendi* equações na aula de matemática.
ExcluirAdorei esse post, muito esclarecedor,eu não havia notado isso.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, Lorena Gouveia. Abraço.
ExcluirFiz um post sobre isso hoje... estou extremamente incomodado, pois tenho que ler a frase 2 vezes pra fazer sentido. E só faz sentido quando lemos da forma errada. Pelo amor de Deus! O que acontece com essa geração?
ResponderExcluirÉ a geraçao Filhos órfãos de pais vivos.😥
ExcluirEu vivo uma guerra cm uma pessoinha aqui em casa pq ele não consegue usar o "r" dos verbos no infinitivo. Afff!!
ResponderExcluirUm dia desses vu abrir a cabeça dele e encher de "r".
Pois onde moro, usam é de maneira excessivao r no finas das palavras "eu te amor"
ResponderExcluirTerrível né AFF
ExcluirIsso tipo de escrita tbm me incomoda muito esse r inútil no final da palavra é constrangedor
ResponderExcluirleoniceramos75@gmail.com
ResponderExcluirEu fico profundamente incomodado com esse tipo de escrita, leio da forma que escrevem. Incomoda demais.
ResponderExcluirTexto ridículo cheio de preconceitos linguísticos e especulações baratas. Lembre-se de retornar à Academia e recordar a história do Português como um todo...Esperava-se mais um profissional das letras...
ResponderExcluir"Ridículo" é o texto, ou quem se esconde atrás do anonimato para disparar ofensas? Se o comentário fosse assinado, poderíamos debater ideias e conceitos de modo civilizado e com base em teorias linguísticas, pois nunca saí da "academia", nem deixei de estudar. Para encerrar, sugiro que compreenda melhor o que é "preconceito linguístico".
ResponderExcluirDesesperada!!! Vendo nossa língua ser assassinada dessa forma!
ResponderExcluirHorrível essa forma "moderna" de se escrever...tenho que ler mais de uma vez para entender. Colocam "e" onde não tem e tiram de onde tem...o que está acontecendo com o português que aprendi
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