domingo, 30 de julho de 2017

Novela de Glória Perez me fez entender o sentido da palavra "pavulagem", citada na canção Uirapuru, de Waldemar Henrique

Lídia Maria de Melo
Durante o curso Primário, equivalente aos quatro primeiros anos do atual Ensino Fundamental, que fiz de 1964 a 1967, aprendi a música "Uirapuru", uma preciosidade do cancioneiro nacional, que só na idade adulta soube ser de autoria do paraense Waldemar Henrique.
Foi composta em 1934 e, embora tenha forma popular, também inspira interpretações eruditas. Há diversos vídeos no Youtube.
A letra de "Uirapuru" narra uma história vivida por um protagonista (o eu-lírico) com um caboclo, durante a travessia a remo de um paraná, ou seja, de um braço de rio.
Além de falar sobre diversos personagens da cultura indígena, o caboclo gabava-se de ter conseguido pegar o uirapuru, um pássaro de canto raro e hipnotizante, que poucos têm a chance de avistar e, muito menos, de tocar. O mistério que envolve o avistamento do uirapuru é tamanho que o pássaro tornou-se alvo de uma ancestral lenda indígena da Amazônia.
Quando me tornei professora, transmiti essa música a meus alunos. Até aprendi a tocá-la no violão.
Foi por intermédio dessa música que soube da existência da palavra "pavulagem".
Curiosamente, apesar de entoá-la por décadas e de ser uma professora de português, além de jornalista, nunca entendi o sentido desse vocábulo na letra. Até cheguei a procurar em dicionários lá pelos anos 1970/1980, mas não encontrei. Depois, nunca mais o assunto se fez necessário.
Neste ano de 2017, com a novela "A Força do Querer", de autoria de Glória Perez e transmitida pela Rede Globo de Televisão para todo o Brasil, costumes e vocabulário do estado do Pará entraram em destaque. Com isso, o sentido da palavra "pavulagem", enfim, se revelou para mim.
No contexto da dramaturgia, as falas das personagens encarregaram-se de me ensinar. Ritinha (interpretada por Isis Valverde), Zeca (Marco Pigossi), Ednalva (Zezé Polessa), Nazaré (Luci Pereira), Abel (Tonico Pereira) e Marilda (Dandara Mariana) não param de empregar pavulagem em suas conversas.
Imediatamente, lembrei da "pavulagem" citada por Waldemar Henrique em sua bela canção e só então compreendi que o caboclo referenciado nela exibia-se e mentia, ao contar que conseguiu pegar o uirapuru.
Nunca é tarde para aprender. A teledramaturgia, ou seja, a telenovela, como toda expressão artística, tem suas funções positivas, apesar de alguns ainda insistirem em dizer o contrário.
Para quem não conhece a música de Waldemar Henrique e quer ouvir, fiz uma gravação minha à capela. Clique no áudio abaixo: 👇

4 comentários:

  1. Pavulagem é um termo comum na linguagem cabocla do Pará e de toda a Amazônia. Normalmente é empregado para quem está querendo aparecer, fazendo gracinha ou inventando alguma façanha que não é do seu feitio. Os adultos costumam dizer "deixa de pavulagem, menino" quando algum pivete procura chamar atenção dizendo bobagens. Eu e a Nirley ouvimos muito essa palavra.

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    1. Ordonez, obrigada pelo comentário e por acrescentar mais informações. Sempre cantei essa música desde criança, mas nunca captei o sentido da palavra. Agora, sei o que é. Beijo.

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  2. Eu nunca tinha ouvido essa palavra, como outras duras pelos personagens do Norte nessa obra. Minha preferida é a expressão " o pau te acha", para dizer eu te pego,eu vou te bater. Uma delícia nossa riqueza cultural!

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