sábado, 23 de setembro de 2023

Você sabe a origem da expressão "PT Saudações"?

 Lídia Maria de Melo


Lídia Maria de Melo

Outro dia, em uma rede social, perguntei a meus seguidores se alguém conhecia a expressão "PT Saudações".
Alguns, mais velhos, disseram que sim.
Outros preferiram não arriscar uma resposta.
Pois bem, vamos às explicações.

A expressão surgiu com o telegrama, meio de comunicação inaugurado no Brasil em meados do século 19, após a invenção do telégrafo. Tratava-se de uma forma bem rápida e urgente  de comunicação.
O telégrafo foi criado pelo norte-americano Samuel Finely Breese Morse em 1837. Somente em 1844, ele conseguiu enviar a primeira mensagem à distância. A linguagem usada passou a ser conhecida como Código Morse.
No Brasil, a primeira linha de telégrafo foi instalada na cidade do Rio de Janeiro em 1852, a pedido do imperador D. Pedro II, um entusiasta das novas tecnologias. 
O telegrama passou a ser uma alternativa à carta, que demorava dias para ser entregue.
A linguagem do telegrama era sintética, sem preposições, artigos e pontuação, para reduzir o custo da mensagem, entregue pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
As letras PT eram a abreviação de ponto (final). Não tinham (nem têm) qualquer ligação com o Partido dos Trabalhadores, que só foi fundado no Brasil em 1980.
A palavra "saudações" era um cumprimento  formal, equivalente a  "um abraço", "passar bem" etc. Com o tempo, "PT Saudações" passou a ser usada com o sentido de despedida.
Às vezes, quando uma conversa ficava alterada, era comum um dos interlocutores encerrar o assunto, usando essa expressão, numa demonstração de contrariedade, ou de desprezo pelo interlocutor. Ao mesmo tempo, encostava o dedo indicador na própria testa e apontava em direção ao outro, como se batesse continência. Depois, dava as costas e ia embora.
Hoje, quem pesquisa telegrama na internet só encontra o aplicativo Telegram, que não é o dos Correios, mas segue o mesmo conceito: mensagem rápida.
Em tempo: os Correios ainda oferecem o serviço de envio de telegramas, que pode ser escrito ou fonado.


quarta-feira, 18 de maio de 2022

O que é "bruaca", apelido de Maria, vivida em Pantanal por Isabel Teixeira, filha de Renato Teixeira? Você sabe?

Lídia Maria de Melo

A palavra bruaca voltou à moda, com a nova versão da novela Pantanal, sucesso de audiência em 1990 na hoje extinta TV Manchete. Pode ser um substantivo que nomeia sacos ou malas de couro, usadas no transporte de mercadorias em cavalos e jegues. É também empregada, pejorativamente, para designar uma mulher feia e vulgar. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, indica que a palavra é usada ainda com o sentido de "mulher velha; bruxa; megera". Esse é o sentido pejorativo utilizado pelo personagem Tenório, interpretado pelo ator Murilo Benício, quando se refere à mulher dele, Maria, a quem ele rejeita e trata mal. Por sinal, a personagem Maria é vivida por Isabel Teixeira, filha do compositor, cantor e violeiro Renato Teixeira, nascido em Santos e criado em Taubaté, que fez uma pequena participação em Pantanal. Isabel foi a médica Jane na novela Amor de Mãe, que acabou assassinada por Telma (Adriana Esteves). Na versão de Pantanal em 1990, quem deu vida a Maria Bruaca foi Ângela Leal, mãe da também atriz Leandra Leal.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Gregório de Matos, o Boca do Inferno, esquece a sátira no soneto barroco Buscando a Cristo

 Lídia Maria de Melo

Clique na imagem ou neste link, para
assistir aos vídeo no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=Lf8ATpaDuyo

O poema barroco Buscando a Cristo, do escritor baiano Gregório de Matos, expõe o antagonismo entre a capacidade cristã de perdoar e a insignificância humana.  A ambivalência se apresenta também pela consciência do eu-lírico de ser um pecador que busca o acolhimento  do Cristo crucificado.

Em termos de estilo, o poeta apelidado de Boca do Inferno, devido às suas obras satíricas, emprega figuras de linguagem. Marcadamente, são observadas a antítese, ou seja, o uso de palavras e ideias de sentidos contrários, e a metonímia, em referência às partes do corpo de Cristo, braços, olhos, mãos, pés, cabeça, sangue, como se cada uma delas fosse de fato o corpo inteiro. 

Os cravos são mencionados como a representação do próprio castigo, a crucificação. Gregório de Matos utiliza ainda a prosopopeia ou personificação, atribuindo às partes do corpo de Cristo crucificado características humanas. 

Outra figura presente no poema é a zeugma, assim como a anáfora. Zeugma é a omissão da forma verbal “correndo vou”, que é empregada no primeiro verso da primeira estrofe e suprimida nas demais.  Anáfora é a repetição da expressão “ A vós” no início de vários versos.

Na estrofe  final do poema, o eu-lírico expõe sua necessidade de ser acolhido por Cristo e  o tamanho do sacrifício do filho de Nazaré pela humanidade. É nesse momento que podemos observar a característica denominada fusionismo, o homem entendendo que obterá incondicionalmente o perdão divino.

O barroco foi um movimento estético, surgido na segunda metade do século XVI, na Península Ibérica, após o Renascimento. Foi  marcado pelos princípios ideológicos nascidos  a partir da fundação da ordem religiosa Companhia de Jesus, em 1540, e ainda pelo movimento da Contra-Reforma, que se caracterizou pela tentativa de conciliar as novidades renascentistas  com a tradição religiosa da Idade Média. 

Além disso, o barroco sofreu influência das decisões do Concílio de Trento, que se reuniu de 1545 a 1563, que teve como principal objetivo reafirmar os dogmas católicos diante do crescimento do  protestantismo.

Nessa época, surge então, um novo homem, com pensamentos, concepções sociais, políticas, artísticas e religiosas, influenciadas pela Contra-Reforma católica e pelos ditames do Concílio de Trento.

Entre as características barrocas, estão: o culto ao contraste, como se vê no poema Buscando a Cristo, de Gregório de Matos; uma preferência pelos aspectos cruéis, dolorosos, sangrentos e até repugnantes, com o intuito de mostrar a miséria humana por meio de impressões sensoriais; o conflito entre o homem santo e o homem pecador; uma intensidade na exposição do sentido da existência humana; a humanização do sobrenatural; e o fusionismo, ou seja, a fusão entre luz e treva, entre racional e irracional, surgindo  daí o uso abusivo das figuras de linguagem nas obras literárias.

O barroco, como citou Domício Proença Filho, em Estilos de Época na Literatura, apresenta “traços bem definidos nas artes visuais e plásticas, bem como na literatura” , que correspondem ao século XVII. Ele está na raiz do futuro movimento do Romantismo e penetra pelo século XVIII, um período de entrecruzamento ideológico.

Independentemente das características estéticas do poema Buscando a Cristo, a leitura dessa obra na Semana Santa nos remete à crucificação de Jesus pelos romanos e a seu mais profundo ensinamento: amar ao próximo como a si mesmo.


terça-feira, 15 de março de 2022

Doença é causa natural de morte? Falecimento do ator William Hurt suscita essa dúvida

 Lídia Maria de Melo (foto e texto)

O que é morte por causa natural? O falecimento do ator estadunidense William Hurt, no último domingo, provocou dúvidas nesse sentido. Hurt recebeu o Oscar de Melhor Ator, em 1985, por seu papel no filme O Beijo da Mulher Aranha, dirigido por Hector Babenco e também estrelado pela atriz Sônia Braga.
Em nota publicada em uma rede social, o filho do ator informou que o pai morreu de causas naturais. Muitos órgãos de imprensa repetiram a mesma informação.
Leitores e telespectadores passaram a questionar a expressão "causas naturais", já que em 2018 circulou a notícia de que o ator apresentava metástase de um câncer de próstata.
Pois bem, a elucidação está na tanatologia, ou seja, estudo científico sobre a morte. A medicina legal  também explica.
De acordo com essas duas áreas, as mortes provocadas por doenças são classificadas como naturais, pois resultam de uma falência do próprio organismo. Ou seja, é natural que um dia todo ser humano morra.
Já a morte violenta decorre de um ato praticado por outra pessoa (caso do homicídio), pela própria pessoa (suicídio) ou por um acidente de qualquer gênero (trânsito, drogas, queda etc). As mortes violentas são sempre motivos de investigação.
Agora, você já sabe: quem morre em consequência de uma doença, conforme a linguagem técnica, tem uma morte provocada por causa natural.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Polissemia da palavra chocolate


Imagem de Domínio Público - Pixabay 
Lídia Maria de Melo
As palavras podem ser polissêmicas. Ou seja, adquirem sentidos diversos.
Polissemia, na definição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, é a multiplicidade de significados para um mesmo significante. 
"Chocolate", por exemplo, é aquele doce em barra ou bombom, feito de cacau, açúcar e baunilha, que dá prazer ao paladar. 
Pode ser também a bebida resultante da mistura de leite e pó de cacau. 
No futebol, quando se diz que um time "toma um chocolate" significa que perdeu de goleada da equipe adversária.
"Chocolate" era também o nome artístico do comediante e compositor Dorival Silva, falecido há 30 anos. 
Dependendo do contexto, a palavra "chocolate" pode ganhar novos sentidos.
Tanto sentidos amargos, quanto obscuros!